sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Primeira Noite – Gilberte e Marcel

[Três da manhã, dois numa sala de bate-papo na Internet].
---- > Afinal, o que ele tem?
- > Síndrome de Rh... Nem queira saber.
---- > Desculpe, não conheço essa doença.
- > Nem queira. Cada vez mais dependente de mim. Ele dorme agora.
---- > E você, o que faz além de cuidar de seu filho ?
- > Só cuidar dele. Mulher de meios independentes. Vá, família riquinha, sejamos claros. Por enquanto deixei o trabalho. Ex-marido também ajuda. Com dinheiro, só. E você?
---- > Queria ser um explorador solitário. Tipo Amyr Klink, sabe? Barcos, Polo Sul, Descobertas, ir atrás de patrocínio, depois enfrentar valentemente Tempestades, essas coisas.
- > Não me parece muito feliz.
---- > É mais chato do que eu pensava. E muito solitário.
- > Aí na Patagônia não tem nenhuma pin-gui-nha-zi-nha para você abusar da coitada?? Eheh
---- > Muito engraçado. E nem é a Patagônia. Estou muito mais ao Sul, paralelo 65, essas coisas. Pela escotilha posso ver um Navio Rompe-Gelos da Marinha chilena. Veio ontem.
- > Deus, que Programão ver um navio quebrar gelo! eheh
---- > Eu e você, duas pessoas, na verdade dois geradores de palavras em um teclado, no mesmo fuso horário, separados por seis ou oito mil quilômetros, unidos pelas tristezas e...
- > Conte-me histórias de sacanagem.
---- > ...... Você quer dizer, histórias aham de amor?
- > Não cara, quero dizer sacanagem – sexo -  meteção – aquilo-naquilo – pega qualquer metáfora que quiser.
---- > E você acha que isso fica bem? Imagina, você, a devotada mãe de um filho com problemas – eu, um teoricamente bravo e realizado explorador solitário...
- > Ai, se continuar esse draminha eu choro. Inventa aí um nome para você.
---- > Marcel. Sempre quis.
- > Boa. Um nome francês. Chame-me Gilberte.
---- > Gilberte.

- > Conte a primeira.

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